quarta-feira, junho 15, 2016

Reporting from the front: Alvaro Siza in Giudecca

Dia 5
(1ª parte)

25 de maio de 2016, grande adrenalina logo de manhã. Quando o despertador tocou, o Zé voltou a dizer em voz alta: 
- Voltei a não dormir nada! Estou tramado...
- Bora lá Zé! Hoje é o grande dia da inauguração e temos de chegar a horas! - respondi eu também ensonado e mal dormido. Era sempre eu quem se levantava primeiro. O Zé ficava a fazer ronha na cama...


Mal chegámos à estação fluvial S. Maria del Giglio tirei o caderno para aquecer. Coloquei-me mesmo junto à água para desenhar a outra margem. Não há maneira de saber quando chega o vaporetto, porque esta é uma estação pequena e não tem o ecrã com o tempo de espera, mas o que interessava mesmo era não desperdiçar o tempo.
A Benedetta só dizia:
- Não sei como é que vocês conseguem fazer isso assim tão rápido, descontrolado e controlado ao mesmo tempo. Isto está a ser uma grande aprendizagem para mim, para não me preocupar tanto com o resultado final...
Eu e o Zé riamo-nos e a caneta nem levantava do papel...
Chegou entretanto o vaporetto e o desenho continuou ao sabor do balanço do barco.


Chegados à Giudecca, a confusão de pessoas estava instalada. Todos à espera, mas uns com mais adrenalina do que outros. Quando pensamos que somos uns outsiders, que ninguém nos conhece e ali estão só vedetas, começam a aparecer pessoas conhecidas. Primeiro um grande amigo português que vive em Vittorio Veneto há décadas, o Domingos Ribeiro, tradutor e intérprete, com a Luzia, excelente académica e prestes a entrar no mundo laboral na área da comunicação e jornalismo (é bom ver como os portugueses são mesmo excelentes em qualquer parte do mundo). 
Depois a Cristina Carrilho da Graça, minha professora de Desenho na António Arroio, ali presente com o marido. Ao falar-lhe, passei a conhecer mais pessoas ainda e, quando dei por mim, estava só na conversa em vez de desenhar...
Encostei-me a uma parede e comecei freneticamente a desenhar. O ambiente tornou-se ainda mais fervilhante com a chegada do Siza. Jornalistas, fotógrafos, câmaras, políticos, todos de roda dele... que loucura, parecia uma estrela rock... e é, mas da arquitectura!


Com o acalmar do ambiente lá fora decidi entrar. Nos visitantes havia um misto de interesses: uns queriam mesmo ver e ouvir tudo ao detalhe. Os vídeos da sic são excelentes e merecem cada segundo. As maquetes são lindas. O ambiente de obra transformado em exposição é absolutamente brilhante. Até os grafitis que estavam nas tábuas do estaleiro foram levados lá para dentro (o Zé tem uns desenhos muito bons disso mesmo). 
Outros circulavam de uma sala para a outra olhando de relance para tudo e sem tempo para parar. Percebia que o foco deles era acompanhar o Siza. Uns pela excitação de o ver ao vivo, outros porque seguiam a massa de pessoas. Outros ainda, porque era ali que se estavam a tirar as fotografias para os jornais...


O Siza saiu lá para fora e a exposição esvaziou. Ficaram apenas os que queriam mesmo ver tudo ao detalhe. Voltei a encostar-me a uma parede. Nestes dois bancos sentaram-se dois habitantes locais. Queriam ver o vídeo com calma e sem barulho. Também eu...
Há uma imagem muito bonita no filme em que o Siza aparece em primeiro plano e, em plano de fundo, vê-se o casario de Veneza com a torre campanária da Piazza di S. Marco. É tudo rápido, muito fugaz, mas tirei as aguarelas e fiz essa mancha de memória. Depois os limites da tela e a silhueta das duas senhoras sentadas a ouvir falar do sítio onde moram.
Lindo este momento...


Depois, antes de almoço, tirámos uma fotografia de nós os 4, urban sketchers, em trabalho de reportagem na Giudecca. A chapa oficial está aqui, mas antes fiz esta selfie. 
Mal sabia eu que durante o almoço estaria à conversa com o Siza sobre desenho, canetas, a linha preta, Veneza, enfim, uma honra...
Virá essa história no próximo post.

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